Bondstone quer afirmar-se como plataforma de investimento de referência em Portugal
Paulo Loureiro, CEO da empresa de investimento e gestão de ativos imobiliários, falou com o Público Imobiliário:
Como se posiciona a Bondstone no mercado imobiliário português? A Bondstone é uma private equity especializada no desenvolvimento e gestão de projetos imobiliários em Portugal, em diversos segmentos. Captamos investimento internacional (maioritariamente dos EUA e Europa) que é integralmente canalizado para o desenvolvimento das nossas cidades, nomeadamente para projetos residenciais destinados às famílias portuguesas e para infraestruturas de suporte à economia. Pretendemos posicionar-nos a nível internacional como a plataforma de investimento de referência em Portugal para investidores que acreditem no potencial do nosso mercado imobiliário e do nosso país. Temos uma abordagem de investimento flexível, um processo de decisão rápido e eficaz e uma equipa dinâmica suportada por um comité de investimento com muita experiência internacional.
A Bondstone adquiriu a estrutura e equipa da Louvre Properties. Como decorreu este processo? A Louvre Properties desenvolveu durante os últimos anos diversos projetos residenciais de referência e formou uma equipa de gestão sólida que tive oportunidade de coordenar. Fazia todo o sentido integrarmos a equipa e estrutura da Louvre Properties na Bondstone por todas as sinergias que podemos ter em conjunto. A Louvre Properties continua a ser a marca do grupo Bondstone destinada aos projetos de reabilitação urbana de menor dimensão e com um cliente-alvo mais internacional. No entanto, o nosso futuro estará maioritariamente noutros segmentos e noutro tipo de projetos mais destinados às famílias e empresas portuguesas.
De que forma se diferenciam da concorrência? Temos uma equipa local, mas uma abordagem muito internacional. O nosso parceiro financeiro e operacional é um grupo belga (Universtone) que tem um track record de mais de 25 anos em diversos países, nomeadamente França, Bélgica e Coreia do Sul. Pretendemos trazer para Portugal o know-how adquirido nestes países, sobretudo na criação de novos projetos destinados à classe média. Na Coreia do Sul, por exemplo, a Universtone desenvolve operações com uma área média de construção de 150.000m2, tendo já desenvolvido mais de 4.000 apartamentos para a classe média. É uma realidade totalmente diferente.
Que investimentos tem a Bondstone em perspetiva? De que forma a pandemia afetou o vosso plano de investimento? Antes do início da pandemia tínhamos o objetivo de investir até final de 2021 cerca de 400 milhões de euros em diversos segmentos, com um foco prioritário nos projetos residenciais destinados à classe média (tanto para venda como para arrendamento) e nos segmentos de suporte à atividade económica e à competitividade do nosso país, nomeadamente escritórios e “alternatives” (residências de estudantes, coworking e senior living, por exemplo). Apesar da situação que vivemos atualmente, continuamos a acreditar que a escassez de habitação nova para a classe média continuará a existir e mantemos o plano de investir neste segmento. Relativamente aos restantes segmentos, teremos de avaliar cuidadosamente a procura e reajustar o nosso plano de investimento em função da evolução do mercado. Estamos também a estudar novos segmentos que antes da crise não eram prioritários. Até ao momento todos os nossos investidores reiteraram a sua vontade de continuar a investir em Portugal, o que é um sinal muito positivo para o futuro.
Falou do objetivo de desenvolver projetos residenciais para a classe média. Colocam a hipótese de participar no programa “Lisboa Renda Acessível” recentemente anunciado pela Câmara Municipal de Lisboa? Claro que sim. Acredito convictamente que o desenvolvimento sustentável das nossas cidades apenas será possível através de uma estreita cooperação entre entidades públicas e privadas. Pelo que tenho visto, quer a Câmara Municipal de Lisboa quer a Câmara Municipal do Porto estão muito empenhadas em estabelecer estes canais de cooperação e estamos totalmente disponíveis para colaborar neste processo, quer a nível de investimento quer através da participação em grupos de reflexão sobre o que pretendemos para as cidades. Precisamos de trazer as famílias portuguesas de volta para o centro das cidades e de desenvolver infraestruturas económicas de referência a nível internacional para aumentar a nossa competitividade. Todos juntos seremos mais fortes, não tenho a menor dúvida.
Como têm lidado com a pandemia? Esta é uma boa altura para investir? Numa primeira fase a nossa prioridade centrou-se em acompanhar os nove projetos residenciais que temos em curso, dos quais sete estão concentrados em Lisboa. Relativamente a novos investimentos, antes do início da pandemia estávamos a analisar um conjunto de projetos destinados à classe média representando um investimento superior a €150 milhões (dos quais €100 milhões na cidade de Lisboa) proveniente dos nossos parceiros financeiros internacionais. Durante os últimos três meses fomos forçados a adiar temporariamente estas transações. No entanto, considerando a evolução positiva que tem sido registada decidimos retomar a análise destes processos e prevemos tomar brevemente a decisão de investimento.
Quais as suas expectativas de retoma económica e do mercado imobiliário? A retoma do mercado imobiliário está dependente da retoma económica e vice-versa. Sem economia a funcionar não existe mercado imobiliário: as famílias não têm capacidade de comprar casa e as empresas adiam novos investimentos. Por outro lado, o mercado imobiliário foi sem sombra de dúvida um dos grandes motores da recuperação económica do país no período pós-Troika e estou certo de que voltará a sê-lo no período pós-pandemia, nomeadamente através da captação de investimento internacional que é fundamental para alavancar a nossa retoma económica. Temos de conseguir promover Portugal como um “safe haven” pós-Covid quer para continuarmos a atrair investimento estrangeiro para as mais diversas indústrias quer para recuperarmos o setor do turismo, que tem um peso significativo na nossa economia. Queremos ser parte ativa nesta missão de promoção de Portugal como destino de investimento, de forma a continuarmos a renovação das nossas cidades e aumentarmos a competitividade económica e tecnológica do país.
Qual o papel que as entidades públicas, nomeadamente as Câmaras Municipais, podem ter nesta recuperação? As Câmaras Municipais têm um papel fundamental para a promoção das nossas cidades como destinos “amigos” do investimento. Por um lado, através da simplificação, agilização e desburocratização dos processos de licenciamento e, por outro, através da promoção de programas de incentivo ao investimento. As medidas anunciadas recentemente pela Câmara Municipal de Lisboa vão no caminho certo: a criação da plataforma de Urbanismo Digital, a reorganização das equipas e a simplificação da análise dos projetos são medidas concretas que poderão a curto prazo ter um impacto muito positivo. Por outro lado, programas como o “Lisboa Renda Acessível” e o “Lisboa Empreende+” são essenciais para a exploração do potencial estratégico da cidade através da colaboração entre entidades públicas e privadas.
E quanto ao Governo? Existem diversas medidas possíveis, desde a retoma do programa Golden Visa no formato original até à redução da taxa de IVA (de 23% para 6%) na construção nova destinada à classe média, quer para venda quer para arrendamento. A APPII, através do Dr. Hugo Santos Ferreira, tem feito um trabalho extraordinário na preparação de diversas medidas e na articulação entre entidades públicas e privadas. Foi recentemente anunciado o programa “Relançar”, que é uma excelente iniciativa da APPII para propor mecanismos que facilitem a retoma da nossa economia.
Preveem lançar brevemente novos projetos? Sim, prevemos lançar durante o segundo semestre deste ano as vendas em planta de dois novos projetos no Porto e em Cascais. Estamos igualmente em fase de negociação para adquirir dois novos projetos de dimensão substancial na cidade de Lisboa, destinados às famílias locais.
Costuma dizer-se que nas crises surgem boas oportunidades. Concorda? Concordo plenamente, estou certo de que surgirão excelentes oportunidades de investimento a médio-prazo em diferentes segmentos, que poderão recompensar as empresas melhor preparadas, com capacidade de investimento e disponibilidade de adaptação a um novo contexto. Continuaremos permanentemente a analisar novos projetos. Como forma de reforçar o nosso compromisso, contratámos em plena pandemia um CFO (António Dias) com experiência na indústria de private equity que apoiará a execução do nosso plano de investimento.
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